sábado, 10 de junho de 2017

Glossário Zen


Bodi
Sabedoria. A sabedoria da Iluminação de Buda adquirida ao cortar-se os dois obstáculos: paixão e conceitos ilusórios. O termo bodi é geralmente traduzido apenas como sabedoria. Bodai [JAPONÊS]; Bodhi [SÂNSCRITO].
Bodidarma
Monge da Índia que levou o Budismo para a China. Considera-se que ele chegou em terras chinesas no dia 21 de setembro de 519 e,depois de haver encontrado o Imperador Wu da Dinastia Liang (502-57), cruzou o rio Yang-tzu e morou no templo Shao-lin, onde fez zazen por nove anos, voltado para a parede. É reverenciado como o 28⁰ Mestre Ancestral na linhagem que se inicia com Xaquiamuni Buda e como fundador do Zen na China. Bodaidaruma [JAPONÊS]; Bodhidharma [SÂNSCRITO].
Bodisatva
Alguém que pratica os ensinamentos de Buda tanto na vida secular quanto na religiosa. Faz o voto pleno de compaixão de salvar todos os seres antes de realizar sua própria e completa Iluminação. Um Bodisatva da mais altarealização é destinado a nascer como um Buda em sua vida seguinte. Há muitos Bodisatvas no Budismo. Os mais conhecidos no Zen Budismo são Kannon (Bodisatva da Compaixão e Protetor da Terra e das Crianças), Manjusri (Bodisatva da Sabedoria)e Fugen (Bodisatva da Prática Constante). Bodhisattva [SÂNSCRITO], Bosatsu[JAPONÊS].
Buda
É o Buda principal nos ensinamentos da tradição Terra Pura. Seu nome significa Buda da Luz Infinita. Os sutras dizem que ele fez 48 votos como Hozobiku e tornou-se o Amida Buda em Sukhavati (Paraíso do Oeste) depois de longo treinamento budista. Amida Buda [JAPONÊS].
Buda
Fundador histórico do Budismo, nascido Sidarta Gautama no dia 8 de abril (segundo pesquisadores japoneses), na Índia, há mais de dois mil e quinhentos anos. Abandona seu castelo e sua família e, depois de práticas de yoga e ascetismo, senta-se em zazen por uma semana. Na manhã do oitavo dia, ao ver a estrela da manhã, diz: “Eu e todos os seres da grande Terra, simultaneamente, nos tornamos o Caminho”. Imagem principal da tradição Soto Shu. Shakamuni [JAPONÊS]; Buda Sakyamuni [SÂNSCRITO].
Carma
A palavra literalmente quer dizer ação. No Budismo, são as ações que acabam deixando resíduos, são resultados de outras ações ou provocam resultados e são produzidas pela mente, pelo corpo e pelas palavras. Boas ações produzem bons resultados, más ações produzem maus resultados e ações mistas produzem resultados mistos. Há vários tipos de carma: individual, coletivo, fixo, não-fixo, entre outros. Go [JAPONÊS]; Kamman, Karma, Carma [PÁLI], Karman [SÂNSCRITO].
Daikan
Sexto Ancestral do Darma da China, Daikan Eno (638-713) foi um lenhador pobre que se tornou monge ao ouvir a recitação do Sutra do Diamante e acaba sendo o sucessor do Darma do Abade de um grande mosteiro. Ligado à escola chinesa de “Iluminação Súbita”. Hui-neng [CHINÊS].
Daiosho
Grande Osho, Grande Monge ou Grande Monja. Título de monges e monjas que já tiveram um discípulo monge ou monja que tenha passado pela Cerimônia de Shuso Hossen (Combate do Darma do Chefe dos Noviços). Geralmente conferido aos que se tornam responsáveis por algum templo oficial da tradição Soto Shu.
Daishi
Grande Mestre. Título honorífico dados aos monges e monjas. Nome dado a Xaquiamuni Buda.
Darma
Quando Darma é escrito com maiúscula significa a Lei Verdadeira. No caso budista, refere-se aos ensinamentos de Buda Xaquiamuni. Quando é escrito com minúscula, refere-se a tudo que existe. A etimologia da palavra está relacionada com aquilo que sempre mantém um certo caráter e torna-se assim um modelo. Dhamma [SÂNSCRITO]; Dharma [PÁLI]; Ho [JAPONÊS].
Denkoroku
Keizan Osho Denko Roku é o nome completo dos Anais da Transmissão da Luz de Keizan Osho (Mestre Zen Keizan Jokin Daiosho, cofundador da tradição Soto Zen no Japão). Coleção de 53 biografias de Mestres Zen da linhagem Soto, desde Buda Xaquiamuni até Koun Ejo (sucessor de Mestre Dogen).
Densho
Sino de metal usado nos mosteiros para anunciar cerimônias.
Dogen
Mestre Zen Dogen. Fundador da tradição Soto Zen do Budismo japonês. Viveu de 1200 a 1253 e fundou o Mosteiro-Sede de Eiheiji, em Fukui, no Japão. Entre seus escritos mais conhecidos, há o Shobogenzo (Correto Darma Olho Armazenador).
Dokusan
Entrevista individual e confidencial com um(a) mestre(a), onde a realização do Darma é testada, sendo confirmada ou não. Deve ser um momento breve de manifestação da Sabedoria Suprema. Os praticantes Zen devem regularmente fazer dokusan com seu(sua) orientador(a).
Doshi
Oficiante de cerimônia, monge ou monja líder. A expressão também é usada para denominar Budas e Bodisatvas. Nayaka [SÂNSCRITO].
Gassho
Mãos palma com palma, gesto de reverência, representando a unidade de corpo e mente. A ponta dos dedos das mãos unidas deve estar na altura do nariz, a um palmo de distância dele. Os braços ficam em ângulo reto. Anjali [SÂNSCRITO].
Han
Madeira maciça cortada de forma retangular e pendurada nas entradas dos templos, mosteiros, salas de zazen, salas dos mestres e salas de palestras. As batidas, feitas por um martelo também de madeira, anunciam o início e o fim das atividades, bem como a entrada ou passagem de monges e monjas. Moppan [JAPONÊS].
Hanamatsuri
Festival das Flores. Refere-se às comemorações do nascimento de Buda Xaquiamuni que, segundo estudiosos japoneses, corresponderia hoje ao dia 08 de abril.
Hinayana
Uma das correntes budistas formadas após a morte de Buda Xaquiamuni. A palavra Hinayana, equivalente a Shojo em sânscrito significa “pequeno veículo” e é uma maneira pejorativa criada pelo outro grupo formado (ver Mahayana). O Hinayana espalhou-se pelo sul da Índia, Sri Lanka, Myanmar, Tailândia e Cambodja. Seus praticantes preferem o termo Theravada (Caminho dos Mais Antigos). O ideal é do Arakan, a pessoa que obtém a libertação através da concentração que leva asuperar as paixões e o ego. Shojo [JAPONÊS]; Theravada [SÂNSCRITO].
Hoyo
Serviço memorial ou cerimônia religiosa
Inkin
Sino manual utilizado nas cerimônias para anunciar as reverências, para acompanhar a oficiante na entrada e na saída da sala de cerimônias e outros momentos de prática coletiva.
Jikido
Nome que se dá a quem é responsável pela sala de meditação naquele período e mantém a sala e os praticantes corretamente. Monitor de zazen.
Jiko
Atendente do(a) oficiante ou mestre(a) que leva a caixa de oferecer incenso (hako) e, nas cerimônias, se coloca atrás e à esquerda dele(a).
Jisha
Atendente do(a) oficiante ou mestre que, nas cerimônias, leva o incenso e coloca-se atràs e à direita dele(a). Também é responsável por verificar se o(a) oficiante tem tudo que necessita, prepara seu zafu para o zazen e abre e fecha a fila de dokusan, organizando a mesma.
Jukai
Receber ou transmitir os Preceitos, dependendo do kanji (ideograma) que representa a sílaba ju.
Jukai-e
Cerimônia de transmissão dos Preceitos de Bodisatva, dados por um(a) mestre(a) de Preceitos. Os Preceitos transmitidos são, ao todo, dezesseis: os Três Refúgios, os Três Preceitos Puros e os Dez Preceitos de Prática (ou Dez Graves Proibições).
Kalpa
Na cronologia hindu, quatro milhões, trezentos e vinte anos, ou simplesmente um período infinitamente longo de tempo. O tempo que o universo leva para expandir-se e contrair-se. Ko [JAPONÊS].
Kannon
Bodisatva que personifica a grande compaixão, misericórdia, amor. Seu nome, em sânscrito, literalmente significa “quem vê, observa em profundidade, os lamentos do mundo”, e atende os pedidos verdadeiros. Há um capítulo do Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa dedicado a Kannon Bosatsu que é lido todas as manhãs nas cerimônias completas da tradição Soto Shu. O Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa (Maka Hannya Haramita Shingyo) inicia-se com Kannon praticando Prajna Paramita. É considerada atendente do Buda Amitaba ou Amida Buda, Buda da Luz Infinita (imagem principal das várias correntes da tradição budista Terra Pura — Jodo Shu e Jodo Shin Shu). Não só auxilia os vivos, mas também ajuda a levar as pessoas que faleceram para a Terra Pura. Há muitas iconografias de Kannon no Japão e a devoção dos fiéis na Ásia se compara com a devoção dos católicos pela Virgem Maria. Avalokitesvara [SÂNSCRITO]; Kanjisai Bodisatva, Kanzeon Bodisatva [JAPONÊS]; Kwan Yin [CHINÊS].
Keizan
Mestre Keizan Jokin (1268-325) é o Fundador da tradição Soto Zen no Japão, juntamente com Mestre Eihei Dogen. Era neto-discípulo de Mestre Dogen e responsável pela divulgação da Soto Zen em todo o Japão, o que lhe valeu o título de Mestre Fundador. Compilou o “Denkoroku” (Anais da Transmissão da Luz), escreveu o “Zazen Yojinki”, e o “Sankon Zazensetsu Shingi” (Regras Monásticas). Fundou o Mosteiro-Sede de Sojiji, atualmente em Yokohama. A frase que o iluminou foi: “A mente comum é o Caminho”, ouvida do Mestre Tettsu Gikai, com quem treinou, no Mosteiro de Daijoji.
Kentan
Andar pela sala de zazen verificando a presença dos praticantes e a maneira como estão sentados. Caminhada lenta e respeitosa, com as mãos unidas em gassho. O kentan pode ser feito pelo Monge Superior ou pela Monja Superiora de um Mosteiro, antes do início do zazen, ou por quem os substituir. No final das práticas de grandes Mosteiros, a pessoa responsável por verificar todas as portas, janelas, salas, e se todos os praticantes estão acomodados para dormir, faz um longo kentan por todos os edifícios, levando uma lanterna de papel na mão.
Kesu
Grande sino de metal colocado sobre uma almofada de tecido e tocado através de um bastão chamado bai. Seu som é tão mais baixo e profundo quanto maior seja o kesu e mais pesado o bai. Nos Mosteiros-Sede, os monges precisam subir uma escada para alcançar os kesu, de tão grandes que são.
Kinhin
Andar lentamente a passos regulares, seguindo a respiração, em plena atenção de corpo e mente, entre os períodos de zazen. Conhecido como meditação caminhando, ajuda a relaxar as pernas e o corpo da meditação sentada, refazer a circulação sanguínea e energética, sem perder o foco da mente. É apenas durante o kinhin que as pessoas podem entrar ou sair da sala de zazen para ir ao banheiro, beber água, tomar ar ou fazer alguma outra atividade.
Koan
Algumas vezes traduzido como “pegadinha zen”, koan originalmente significa um Édito Imperial na China antiga. Atualmente refere-se a situações históricas e perguntas e respostas de antigos e famosos mestres zen, com o objetivo de levar os praticantes à Iluminação, ao Despertar (satori ou mezameru, em japonês), através da transcendência da mente dualista. Na tradição Soto, a vida diária é considerada o koan essencial, a manifestação da verdade. Kung-na [CHINÊS].
Korin
Pequeno sino de metal colocado sobre uma almofada de tecido e tocado com um bastão, utilizado nas cerimônias. Geralmente fica ao lado do sino maior, o kesu, e é usado para pontuar a leitura dos sutras, o sentar e levantar dos praticantes e os momentos de reverências durante as dedicatórias e ao final das cerimônias.
Kyosaku
Espada leve de madeira utilizada durante os períodos de zazen para encorajar os praticantes. O kyosaku é também usado para encorajar monges e monjas em sua prática. Diz-se que o kyosaku é a mão de Monju Bosatsu tocando a pessoa que pratica o Caminho de Buda. Geralmente o kyosaku é aplicado no ombro direito do praticante, que é o ombro descoberto dos monges e monjas (o ombro esquerdo fica coberto pelo manto sagrado). Keisaku [JAPONÊS].
Mahayana
Literalmente “Grande Veículo”. A vertente do norte das duas principais correntes budistas que se separaram depois do Parinirvana de Buda Xaquiamuni. Espalhou-se pelo norte da Índia até os países do Tibet, Mongólia, China, Coreia e Japão, adaptando-se aos diferentes países, povos e culturas. O ideal é o do bodisatva, sempre pronto a sacrificar-se para o bem de todos os seres. Daijo [JAPONÊS].
Maitreya
Bodisatva que está no céu Tsushita – o quarto dos seis céus no mundo do desejo – esperando o momento em que descerá a este mundo para suceder Buda Xaquiamuni. Segundo os sutras, aparecerá neste mundo 5.670 milhões de anos após a morte de seu antecessor. Chamado de Buda do Futuro, seu nome significa “afabilidade” ou “amabilidade amorosa”. Miroku Bosatsu [JAPONÊS].
Maka
Grande Sabedoria Completa. Maka significa grande, imensa; Hannya, sabedoria e; Haramita é o que leva à outra margem, é a compleição. Maka Hannya Haramitsu [JAPONÊS]; Maha Prajna Paramita [SÂNSCRITO].
Maka
Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa. Sutra de uma única parte traduzido para o chinês por Hsung-chuang (600-94), é considerado por alguns uma contração do Maha Prajna Paramita Sutra, de seiscentos volumes, enquanto outros dizem ser um trabalho à parte. É um sutra curto e extremamente popular do Budismo, comum a várias tradições. É considerada uma das mais notáveis escrituras do mundo.
Monju
Bodisatva da Suprema Sabedoria. É a idealização ou personificação do Buda da Sabedoria, que se manifesta em zazen. Imagem principal das salas de zazen, um dos atendentes de Buda Xaquiamuni, geralmente sentado sobre um leão. Algumas vezes carrega uma espada para cortar as delusões em uma das mãos e, na outra, um sutra representando a verdade; em outras representações aparece como um monge em zazen. Manjusri [SÂNSCRITO].
Mudra
Postura do corpo ou das mãos. Seu poder reside na própria postura como meio de comunicar a qualidade da verdade. No zazen, fazemos o “mudra cósmico”. As posições gassho e shashu também são mudras.
Myo
Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa. Escritura traduzida por Kumalajiva (344-413), da tradição Mahayana. Revela a possibilidade que todos têm de alcançar a Iluminação, a importância da fé e a compaixão inerente do Bodisatva. Sutra principal das tradições Tendai e Nitiren do Japão. É considerado por Mestre Dogen como o “rei dos sutras”. Há dois capítulos que são lidos todas as manhãs nas cerimônias religiosas completas dos Mosteiros e templos zen. Saddharmapundarikasutra [SÂNSCRITO].
Nirvana
Literalmente “extinção”. Originalmente referia-se ao estado de Iluminação obtido por Buda Xaquiamuni – estado de grande paz e tranquilidade sábias, que pode ser alcançado através da extinção das ilusões e delusões (“ignorância”) e da união com a Verdade (“transcendência da dualidade”). Também é usado para designar a morte de alguém. Não se fala em morte de Buda, mas na sua entrada em Parinirvana (o Grande Nirvana Final). Nehan [JAPONÊS].
Obon
Abreviação de Urabon, é traduzido literalmente como “pendurado de cabeça para baixo”, em referência aos espíritos famintos que sofrem muito. A cerimônia para salvar espíritos famintos ao oferecer-lhes alimentos é realizada no meio do ano. Em algumas partes do Japão no dia 15 de julho; em outras, no dia 15 de agosto. Atualmente é uma oportunidade para as famílias reunirem-se homenageando a ancestralidade pois, no Japão, é um feriado de três dias. Nos templos, faz-se grandes serviços memoriais não só para os espíritos famintos, mas também para todos os que já faleceram, com ofertas de várias espécies de alimentos crus e cozidos, para que todos se satisfaçam e assim encontrem a libertação. Faz-se também a leitura do “Daihishin Dharani” (“Darani da Grande Mente de Compaixão”) e do “Kanromon” (“Portal do Doce Néctar”). É costume haver nos templos e nas praças uma dança circular acompanhada pelo som de grandes tambores (taiko), chamada de Obon Odori. Segundo as crenças populares, parentes e amigos que já faleceram podem nos ver dançar alegres e assim ficam tranquilos e satisfeitos. Ullambana [SÂNSCRITO];Urabon [JAPONÊS].
Okesa
Manto sagrado dos monges e monjas. Há okesas de cinco, sete, nove ou mais pedaços de tecido costurados. Há instruções precisas sobre como fazê-las, lavá-las, usá-las e guardá-las, deixadas por Mestre Dogen no capítulo do Shobogenzo chamado “Kesa Kudoku” (“Mistérios da Okesa”). Kasaya [SÂNSCRITO];Kesa [JAPONÊS].
Parinirvana
Referente à morte de Buda Xaquiamuni, com 80 anos de idade. Segundo especialistas japoneses, a data corresponderia hoje ao dia 15 de fevereiro. Nehan [JAPONÊS]; Paranirvana [SÂNSCRITO].
Parinirvana
Último ensinamento do Buda Xaquiamuni, com 80 anos de idade. Um trecho resumido é lido de 1º a 15 de fevereiro, rememorando os últimos ensinamentos de Buda. O Parinirvana Sutra é lido também nos velórios e funerais budistas. Nehan Gyo [JAPONÊS].
Rakusu
Pequeno manto, de cinco tiras de tecido, costurado de forma especial e transmitido em cerimônia solene para pessoas leigas e/ou monásticos. É o símbolo de um discípulo de Buda, que usa seu manto, faz os votos de seguir o Caminho e manter os Preceitos Budistas.
Roshi
Título honorífico para monges ou monjas, professores do Darma e mestres zen que treinaram por muitos anos e são considerados iluminados. Literalmente significa “velho(a) mestre”.
Samadhi
Estado mental livre de distrações, absorvido na concentração intensa “sem propósito”. Pode-se encontrar na entrada das salas de zazen dos Mosteiros japoneses a expressão “Zanmai O Zanmai” – Samadhi, o Rei dos Samadhis – local para penetrar o estado de Iluminação não-dual. Zanmai [JAPONÊS].
Sampai
Três reverências completas.
Samsara
Originalmente “o fluxo do vir a ser”, o mundo da mudança. Repetição de nascimento e morte nos Três Mundos (Sangai – Desejo e Forma, Forma, Não-Forma) e Seis Níveis de Existência (Rokudo) até encontrar Nirvana. Os Seis Níveis são, em ordem ascendente: Inferno, Espíritos Famintos (Gakki), Animais, Asuras (guerreiros, briguentos), Seres Humanos e Seres Celestiais.
Samu
Trabalho em um templo zen, instaurado na época do 4º Patriarca, Dosshin, que viveu no templo de Sohozan por 30 anos. O trabalho manual tornou-se parte da vida monástica como treinamento espiritual integrado às necessidades da vida diária. Zen em ação.
San-e
Sequência de toques de sinos ou do han, anunciando atividades nos templos e mosteiros.
Sanga
A ordem ou comunidade budista. Sangha [SÂNSCRITO]; So [JAPONÊS].
Sensei
Literalmente “nascido(a) antes”. É a maneira, no Japão, de chamar-se os professores, mestres, médicos, dentistas etc. No Budismo, é usado apenas para professores e monges e monjas que praticam há mais tempo e tornam-se monitores e guias do Darma.
Sesshin
Prática de introspecção e observação profundas. Durante o sesshin, observamos e praticamos o silêncio, procurando falar somente o mínimo indispensável durante as atividades em conjunto. A rotina de um sesshin envolve de 10 a 12 períodos de zazen por dia, divididos em blocos pela manhã, tarde e noite. Também praticamos kinhin, samu, oryoki (refeição formal) e serviços religiosos de leitura de sutras. Durante o sesshin, o mestre fica disponível para dokusan duas vezes por dia, e também faz teishos. O dia começa por volta das 5h da manhã e termina às 22h. O sesshin costuma ser uma excelente oportunidade para aprofundarmos a nossa prática, sobretudo se conseguimos nos comprometer com a concentração e o silêncio. O sesshin mais tradicional é o chamado Rohatsu Sesshin, que vai do dia 1º de dezembro até a manhã do dia 8 do mesmo mês.
Shashu
Mudra, posição das mãos usada quando se está em pé. O polegar esquerdo é colocado dentro da mão esquerda e a mão direita a cobre, mantendo-se os braços em ângulo reto.
Mudra,
posição das mãos usada quando se está em pé. O polegar esquerdo é colocado dentro da mão esquerda e a mão direita a cobre, mantendo-se os braços em ângulo reto.
Shikantaza
Literalmente “apenas sentar-se”. Zazen sem uso de koans, sem nenhuma indução. Considerada a principal prática da tradição Soto Zen.
Shitchi
Entrada de sete sinos para cerimônias especiais. São toques para acompanhar a passagem da oficiante até a almofada no centro da sala de Buda. Nessa entrada há uma “conversa” entre os pequenos sinos de mão (inkin) e o grande sino pendurado fora da sala (densho).
Shokei
Enquanto o taiko marca as horas, este pequeno sino de metal colocado ao lado dele serve para marcar os minutos. Cada toque equivale a 20 minutos.
Shomon
Originalmente um discípulo de Buda. Mais tarde, com a divisão da comunidade, a tradição Mahayana passou a usar o termo para denominar os praticantes da tradição a que chamam pejorativamente de Hinayana e que se esforçam para atingir o estágio de arhat, observando 250 preceitos para monges e 348 preceitos para monjas. Sob o ponto de vista Mahayana, é um estágio inferior ao de Bodisatva. Mestre Dogen escreve no Shobogenzo (Shobogenzo Sanjunshichi Bodaibum Po) que manter os preceitos de Shomon é violar os preceitos de Bodisatva. Sravaka [SÂNSCRITO].
Skanda
“Agregado”. Todos os fenômenos são feitos de agregados. Há cinco skandas: o primeiro é material (em sânscrito, rupa), a substância de que toda matéria é constituída. Os outros quatro skandas são mentais e restritos às funções da mente: sensação, percepção, conexões mentais e consciência (em sânscrito, respectivamente: vedana, samja, samsara e vijnana). Un [JAPONÊS].
Soguei
Pessoa que auxilia na entrada dos oficiantes, tocando o sino de mão (inkin)
Soto
Fundada no Japão no século XIII pelo Mestre Zen Eihei Dogen (1200-53), é uma das treze ramificações do Budismo japonês. Foi um dos cinco grandes grupos do Zen Budismo chinês, fundado no século VII por Bodai Daruma Daiosho (Bodidarma). O nome Soto parece ter surgido da junção dos nomes “Sokei” (em chinês, Ts’ao-hsi), local onde o Sexto Ancestral do Darma, Mestre Zen Daikan Eno (Hui-neng) praticava e “Tozan”, a montanha onde o Mestre Tozan Ryokai (Liangchieh) ensinava. Dos cinco grupos Zen da China antiga, apenas as escolas Soto e Rinzai (Lin-chi) continuam ativas tanto na China quanto em outros países. A terceira escola, Obaku, ainda mantém alguns templos e poucos monges. As outras duas escolas desapareceram. Tsao-tung-tsung [CHINÊS].
Sutra
Um dos tripitaka (“Cânone Budista”). São diálogos e ensinamentos do Mestre Original Buda Xaquiamuni. Literalmente significa “um fio que perspassa as joias, unindo-as”. Na tradição Theravada, constitui apenas o Cânone Páli, com os ensinamentos orais de Buda. Na tradição Mahayana representa os ensinamentos de Buda de maneira geral. Os sutras mais usados pela tradição Soto Shu são: “Sutra da Grande Sabedoria Completa” (Maka Hannya Haramita), “Sutra do Diamante” (Kongo Kyo), “Sutra da Flor de Lótus da Lei Maravilhosa” (Myo Ho Ren Gue Kyo) e “Sutra da Plataforma do Sexto Ancestral”, atribuído ao Sexto Ancestral da China, Daikan Eno (Hui-neng). Kyo [JAPONÊS].
Taiko
Grande tambor colocado geralmente nas proximidades da sala de zazen e da sala de Buda para marcar as horas do dia ou para anunciar alguma refeição, cerimônia especial ou a entrada de uma pessoa importante. Para marcar as horas, é usado junto com o Shokei, que marca os minutos, em intervalos de vinte.
Tatami
Espessa esteira de palha de arroz usada no Japão como cobertura de assoalho ou nos elevados das salas de zazen. O tamanho padrão é de noventa centímetros por um metro e oitenta centímetros [0,90m x 1,80m].
Tatagata
Quem vem e vai do assim como é”, um dos epítetos de Buda. Significa uma pessoa que chegou de e vai para o Tataga (em japonês, Shinyo ou Nyo), a igualdade verdadeira. Também traduzido como “nem indo, nem vindo”, pois estaria “assim vindo, assim indo”. Nyorai [JAPONÊS].
Teisho
Palestra formal do Darma, durante um período de zazen, contendo ensinamentos mais profundos dados por um mestre sobre o essencial do Caminho de Buda.
Tenzo
Monge-chefe da cozinha, responsável pelo preparo das refeições nos Mosteiros zen. O Tenzo e seus assistentes ficam numa ala chamada de Tenzo Ryo. Mestre Dogen considerava tão importante essa tarefa que escreveu um tratado especial chamado de “Tenzo Kyokun” (“Regras Especiais para o Chefe da Cozinha”).
Umpan
Sino de metal em forma de nuvem, geralmente usado para anunciar que as refeições estão prontas. Fica nas proximidades da cozinha (Tenzo Ryo) de um Mosteiro zen.
Zabuton
Almofada retangular de cerca de oitenta centímetros por um metro [0,80m x 1,00m]. O zabuton é colocado sob o zafu durante o zazen ou para fazer reverências em frente aos altares.
Zafu
Almofada arredondada para a prática do zazen. Nos templos e mosteiros zen são pretas para os leigos, leigas, noviços, noviças, monges e monjas. Apenas os professores podem sentar-se nos zafus de cor marrom.
Zagu
Um dos seis pertences pessoais de um monge ou monja. É um pedaço de tecido retangular usado para as reverências ou para sentar-se. Nisidana [SÂNSCRITO].
Zaniku
Esteira de palha de arroz fina sem enchimentos com as bordas de tecido especial colocada sob o zabuton no local das reverências em frente aos altares.
Zazen
Posição sentada em meditação. Za significa “sentar-se” e Zen vem do sânscrito Dhyana, “meditação”.
Zen

Zen é normalmente traduzido como meditação, mas pode ser entendido como a prática da concentração na qual o processo de pensamento intelectual é diminuído e o estado de consciência é elevado pela exclusão de pensamentos extras, chegando-se ao plano do pensamento puro, e obtendose a Iluminação. A partir do 28º Ancestral do Darma, o Venerável Bodaidaruma (Bodidarma), que fazia desta sua prática principal, torna-se uma das grandes vertentes do Budismo na China, por volta dos séculos VI e VII. Há várias práticas meditativas nos ensinamentos budistas e o Zen não deve ser limitado a nenhuma delas. Ch’an [CHINÊS]; Dhyana, Jhana [SÂNSCRITO].

(Fonte: http://www.zendobrasil.org.br/pratique/glossario/ )

terça-feira, 6 de junho de 2017

Trinta Estâncias sobre a Pura Consciência

Trinta Estâncias sobre a Pura Consciência
Autor: Vasubhandu
Tradutor: Joaquim Monteiro
1- “Sendo o atman e os dharmas existências puramente nominais existem diversas modalidades de transformação (da consciência) e tudo isso se produz em função dessas transformações. No que se refere à atividade dessas transformações existem apenas três.”
2- “Elas se intitulam a consciência da retribuição cármica, a consciência calculadora e a consciência que identifica seus objetos. A primeira que é a “oitava consciência” se constitui na totalidade das sementes da retribuição cármica.”
3- “Sendo um apego incognoscível suas distinções estão sempre associadas ao contato, à atenção, à sensação, à distinção e à volição sendo equânime em relação a elas.”
4- “Sendo neutra e não conducente à perturbação, são assim também o contato e os demais dharmas. Ela se transforma como uma correnteza violenta e só é abandonada na condição de Arahat.”
5- “Temos em seguida a segunda transformação, a da consciência denominada Manas. Ela se transforma apoiada naquela outra consciência ( “oitava consciência” ) e a toma por seu objeto. Sua característica e sua natureza é o pensamento calculador.”
6- Ela é sempre acompanhada das quatro paixões que são a ignorância do atman, a visão do atman, o orgulho do atman e o amor ao atman. Ela é também acompanhada pelo contato e pelas demais funções.”
7- “Ela é classificada como neutra e conducente à perturbação prendendo-se ao objeto de seu apego. Ela não existe na condição de Arahat, no samadhi da extinção e no caminho supramundano.”
8- “Vem em seguida a terceira transformação. Ela possui seis modalidades distintas e tem por sua natureza e sua característica a identificação de seu objeto. Em sua totalidade não é benéfica nem maléfica.”
9- “As funções da mente são classificadas como gerais, específicas, benéficas, paixões, paixões dependentes e indeterminadas. Todas elas existem em correlação com as três sensações. (agradáveis, desagradáveis e neutras ).”
10- “As primeiras são as gerais como o contato. Em seguida temos as específicas como o desejo, a compreensão, a memória, a concentração e a sabedoria que possuem objetos diferentes.”
11- “São benéficas a fé, o arrependimento, a vergonha, a ausência de cobiça, a ausência de ódio, a ausência de ignorância, o esforço, a serenidade, a diligencia, a equanimidade e a inofensibilidade.”
12- “As paixões são a cobiça, o ódio, a ignorância, o orgulho, a dúvida e a visão perversa. As paixões dependentes são a raiva, o ressentimento, o ocultamento, o tormento, a inveja, a avareza ...”
13- “... a dissimulação, a bajulação, a ofensibilidade,a arrogância, a falta de arrependimento, a falta de vergonha, a excitação, o entorpecimento, a falta de fé, a negligencia ...”
14- “... a complacência, a falta de memória, a dispersão e o falso discernimento. As indeterminadas são a lamentação, a sonolência, a interrogação e a investigação. Nessas duas últimas existem duas modalidades.”
15- Tendo por base a consciência fundamental as cinco consciências surgem dependentes das condições. Elas se completam em alguns casos e em outros não, sendo como ondas que surgem a partir do oceano.”
16- A consciência (sexta consciência) surge continuamente com exceção dos instantes associados ao nascimento no mundo da não-concepção e às duas modalidades de concentração, no sono e naqueles estados de distanciamento.”
Jisui Zendô – Sanga Águas da Compaixão
R. Eliziário Goulart da Silva 93 – Porto Alegre, RS – 91040-430 / fone: (51) 3085-7476
http://aguasdacompaixao.wordpress.com / email: aguasdacompaixao@gmail.com
17- “Essas diversas transformações consistem na discriminação que tem a própria discriminação por seu objeto. Como essa discriminação é vazia tudo se constitui na pura consciência.”
18- “Em função da consciência que deposita as sementes em seu interior existem essas transformações. Em função do poder dessas transformações surgem as diversas formas da discriminação.”
19- “Em virtude da energia dos condicionamentos cármicos surgem os condicionamentos das duas modalidades do apego. Ao se extinguir a retribuição anterior surge ainda a retribuição seguinte.”
20- “Em função das diversas discriminações são discernidos e calculados os diversos objetos. A essência dessa natureza falsamente concebida não possui propriedades.”
21- “A natureza dependentemente originada é o objeto dessas discriminações. Em função dela a natureza perfeitamente realizada se separa permanentemente da natureza anterior.”
22- “Assim sendo essa natureza dependente não é distinta nem não distinta (da “natureza perfeitamente realizada”). Da mesma forma como a natureza de dharmas como a impermanência ela não pode deixar de ser vista.”
23- “Em função dessas três naturezas podemos afirmar a existência daquelas três não-naturezas. Assim podemos dizer que segundo a intenção suprema de Buda todos os dharmas não possuem uma natureza inerente.”
24- “Existe em primeiro lugar a não-natureza das características, em seguida a não-natureza da substancia e temos por fim aquela que se estabelece em função da separação em relação aos apegos ao atman e aos dharmas anteriormente referidos.”
25- “Esse sentido supremo dos dharmas é ainda chamado de “Tathata”. Sendo permanentemente de acordo com sua natureza se constitui na verdadeira natureza da pura consciência.”
26- “Nessa condição a consciência busca estabelecer-se na natureza da pura consciência sem ter ainda para ela despertado e sem ter ainda realizado a eliminação das paixões derivadas das duas modalidades do apego.”
27- “Ao ver os objetos diante de si imagina ter divisado a natureza da pura consciência. Como existe a discriminação ele ainda não se estabeleceu verdadeiramente na natureza da pura consciência.”
28- “Se nesse instante a sabedoria não discriminar os objetos ela se estabelece na pura consciência em função de ter-se separado das características das duas modalidades do apego.”
29- “É inconcebível tendo passado para além da sabedoria discriminativa. Ela se constitui na sabedoria supramundana. Abandonando o peso das duas modalidades do apego realiza a transmutação da consciência. “
30- “Se constitui no mundo incontaminado, no bem e na permanência inconcebíveis. É o sereno e tranqüilo corpo da emancipação intitulado de dharma pelo grande Sábio.”

Versos sobre a Fé na Mente (Hsin Hsin Ming)

Versos sobre a Fé na Mente (Hsin Hsin Ming)
junho 26, 2009 — Monja Isshin

Hsin Hsin Ming – Versos sobre a Fé na Mente
atribuido a Jianzhi Sengcan (
鑑智僧璨 – Kanchi Sôsan Daioshô)
3º ancestral da linhagem chinesa
falecido em 606
O Grande Caminho não é difícil
Para aqueles que não têm preferências.
Quando o amor e o ódio estão ambos ausentes
Tudo se torna claro e sincero.
Fazendo-se a menor distinção entretanto
O céu e a terra são colocados infinitamente distantes.
Se queres ver a verdade,
Então não tenha opiniões a favor ou contra coisa alguma.
Quando o profundo significado das coisas não é compreendido
A essencial paz da mente é perturbada inutilmente.
O Caminho é perfeito como o vasto espaço
Onde nada falta e nada está em excesso.
Na verdade, é devido à nossa opção em aceitar ou rejeitar
Que não vemos a verdadeira natureza das coisas.
Não vivas enredado pelas coisas externas,
Nem preso às sensações interiores de vazio.
Seja sereno na unidade de todas as coisas
E tais idéias errôneas irão desaparecer por si mesmas.
Quando tentas parar a atividade para alcançar a passividade,
O teu próprio esforço irá te devolver à atividade.
Enquanto permaneceres num extremo ou no outro
Nunca conhecerás a Unidade.
Aqueles que não vivem no Caminho Único
Falham tanto na atividade quanto na passividade,
Tanto na  afirmação quanto na negação.
Negar a realidade das coisas é perder sua realidade.
Afirmar o vazio das coisas é perder sua realidade.
Quanto mais falares e pensares sobre isso,
Mais te desviarás para longe da verdade.
Pare de falar e de pensar,
E nada haverá que não possas conhecer.
Retornar à raiz é encontrar o significado,
Mas perseguir as aparências é perder a fonte.
No momento da iluminação interior
Há um caminho além da aparência e do vazio.
Às mudanças que parecem ocorrer no mundo vazio
Chamamos de reais somente porque somos ignorantes.
Não busques a verdade;
Apenas deixe de acalentar opiniões.
Não permaneças no estado dualístico;
Evite cuidadosamente tais investidas.
Se houver, mesmo que seja um traço,
Disto ou daquilo, do certo e do errado,
A essência da Mente se perderá na confusão.
Muito embora todas as dualidades provenham do Um,
Não fiques apegado a este Um.
Quando a mente existe impertubável no caminho,
Nada no mundo pode ofender,
E quando uma coisa não pode mais ofender,
Ela cessa de existir no velho modo.
Quando não surgem mais pensamentos discriminatórios,
A velha mente cessa de existir.
Quando os objetos do pensamento desaparecem,
O motivo do pensamento desaparece;
Assim, quando a mente desaparece, os objetos desaparecem
As coisas são objetos devido ao sujeito (mente):
A mente (sujeito) é assim devido às coisas (objeto).
Compreenda a relatividade de ambos
E a realidade básica: a unidade do Vazio.
Neste Vazio os dois são indistinguíveis
E cada um contém em si mesmo todo o mundo.
Se não discriminares o áspero do fino
Não serás tentado ao preconceito e à opinião.
Viver no Grande Caminho não é fácil nem difícil,
Mas aqueles com visões limitadas são temerosos e irresolutos;
Quanto mais se apressam, mais devagar eles vão,
E o apego não pode ser limitado;
Mesmo o apego à idéia de iluminação é andar sem rumo.
Deixe que as coisas sigam o seu próprio caminho
E não haverá mais o vir ou o ir.
Obedeça à natureza das coisas (tua própria natureza),
E caminharás livremente sem seres perturbado.
Quando o pensamento está escravizado, a verdade está oculta,
Pois tudo é indistinto e nada está claro
E a cansativa prática de julgar traz aborrecimento e cansaço.
Que benefício pode nos trazer a distinção e a separação?
Se queres te movimentar no Caminho Único
Não desgostes nem mesmo do mundo dos sentidos e das idéias.
Na verdade, aceitá-lo plenamente
É identificar-se com a verdadeira Iluminação.
O homem sábio não se esforça para alcançar qualquer meta,
Mas o homem tolo é escravo e ele mesmo se escraviza.
Há somente um darma,  uma verdade, uma lei e não muitas.
As distinções surgem das aferradas necessidades do ignorante.
Buscar a Mente com a mente que discrimina é o maior de todos os erros.
O repouso e a intranquilidade derivam da ilusão;
Com a Iluminação não há o gostar e o desgostar.
Todas as dualidades surgem da dedução ignorante.
Elas são como sonhos ou flores no ar,
É tolice tentar capturá-las
O ganho e a perda, o certo e o errado:
Tais pensamentos têm que ser abolidos completamente.
Se o olho nunca dorme, todos os sonhos naturalmente cessarão.
Se a mente não fizer qualquer discriminação,
As dez mil coisas são o que elas são, uma única essência.
Compreender o mistério desta Única Essência
É ser liberado de todas as malhas a que estamos presos.
Quando todas as coisas são vistas igualmente
Alcançamos a atemporal Auto-essência.
Não são mais possíveis comparações ou analogias
Neste estado em que não há nem causas nem relações.
Considere o movimento estacionário e o estacionário em movimento
E ambos, o movimento e o repouso, desaparecerão.
Quando tais dualidades deixam de existir
A Unidade em si mesma não pode existir.
A esta finalidade última, nenhuma lei ou descrição pode ser aplicada.
Para a mente unificada de acordo com o Caminho
Cessam todos os esforços autocentrados.
As dúvidas e irresoluções desaparecem
E a vida na verdadeira fé é possível.
Com um simples golpe estamos livres da escravidão;
Nada nos prende e nós não nos prendemos à nada.
Tudo é vazio, claro, auto-iluminante,
Sem qualquer esforço do poder da mente.
Aqui o pensamento, o sentimento, o conhecimento e a imaginação
Não têm qualquer valor.
Neste mundo da Essencialidade
Não há nem ser nem outra coisa que seja o não-ser.
Para entrar diretamente em harmonia com esta realidade
Diga simplesmente quando a dúvida surgir: “ não dois”.
Neste “ não dois” nada é separado, nada é excluído.
Não importa quando ou onde,
A Iluminação significa entrar nesta verdade.
E esta verdade está além do aumento ou diminuição no tempo e no espaço;
Num simples pensamento estão dez mil anos.
O Vazio aqui, o Vazio lá,
Mas o universo infinito permanece sempre diante dos teus olhos.
Infinitamente grande e infinitamente pequeno;
Sem diferença, pois a definições desaparecem
E nenhum limite é visto.
Isso também ocorre com o Ser e o não-Ser.
Não perca tempo com dúvidas e argumentos que nada têm que ver com isso.
Uma coisa, todas as coisas;
Movem-se e se mesclam sem distinção.
Viver nesta realização
É não ter ansiedade acerca da não-perfeição
Viver nesta fé é a estrada para a não-dualidade,
Porque o não-dual é uno com a mente confiante.
Palavras!
O Caminho está além da linguagem,
Pois nele não há nem o ontem, nem o amanhã, nem o hoje.

– Tradução para o inglês de Richard B. Clarke
– Tradução para o português de Murillo Nunes de Azevedo